quinta-feira, 1 de maio de 2014

Senna, 20 anos sem meu herói da infância

Eu não era um garoto que dava trela para super-heróis.

Nunca tive bonecos, nunca gostei do Hulk, do Homem-Aranha, do super capitão de cueca fora das calças.

Minha onda sempre foram os carros, as corridas.

E, aos nove anos, eu já cumpria o ritual dos fins de semana de Formula 1: assistia aos treinos nos sábados e as corridas, nos domingos. Verdade que não conseguia ver todas as provas. Minha mãe levava o meu irmão e a mim à igreja aos domingos, mas eu conseguia pegar ao menos os primeiros 30, 40 minutos das corridas e, quando reencontrava meu pai, ao entrar no carro para voltar para casa, a primeira coisa que eu perguntava era quem tinha ganhado.

Mas aquele fim de semana foi diferente.


No sábado, 30 de abril de 1994, eu estava na sala assistindo ao treino classificatório para o GP de San Marino. Naquela época a fórmula dos treinos era diferente. Os boxes eram abertos por uma hora e, durante aquele período de tempo, todos os carros iam para a pista lutar pelos melhores tempos.


No meio do treino, pulei no sofá quando percebi o tamanho da pancada de Roland Ratzenberger, piloto
austríaco da Simtek. A cena que me vem à mente até hoje daquele acidente é de parte do corpo de Ratzenberger para fora do carro e do sangue sobre a viseira do capacete.

Fiquei chocado, meu coração parou na goela. Apesar de ainda criança, eu já tinha noção da gravidade daquele acidente. Para reforçar meu susto, eu ainda estava com as cenas na cabeça de outro acidente, o de Rubens Barrichello no dia anterior. A batida tinha sido muito forte, ao ponto de quando viraram o carro de Barrichello, a cabeça do brasileiro ricochetear sem reação, denunciando que Rubinho estava desacordado.

Ver Ratzenberger daquele jeito foi apavorante, especialmente para uma criança de nove anos.

Lembro-me de pouca coisa depois do acidente do austríaco, mas me recordo das cenas de Ayrton Senna transtornado, já ciente da morte de Ratzenberger. O acidente havia sido claramente violento demais e o piloto não suportara. 

Hoje digo sem medo de errar que Roland morreu na pista.

No domingo,1º de maio, sei lá o porquê não fui à igreja. Recordo-me de meu pai e eu na sala, assistindo a corrida. Juro que não lembro-me de meu irmão ali. Léo, você estava conosco?

De qualquer forma, o clima da corrida era estranho.

Senna no grid em Ímola. Foto: The Cahier Archive
Estava evidente a tensão, os pilotos no grid tinham expressão carregada. O acidente grave de Barrichello e a morte de Ratzenberger deixava no ar uma sensação de que aquela corrida não tinha que acontecer.

Galvão Bueno chegou a repetir várias vezes antes da largada que tudo o que todos queriam era que aquela corrida acabasse bem. Frases que não faziam muito sentido para um evento esportivo, para a festa que eu estava acostumado a ver nas pistas.

Já na largada, as coisas não correram bem. J.J. Letho teve problemas em sua Benetton e não conseguiu partir. Vindo do fundo do grid, o português Pedro Lamy não teve como desviar e bateu forte na Benetton parada. Um pneu do carro de Lamy voou em direção à arquibancada e feriu a nove torcedores.

Safety-car na pista.

Lembro-me da troca de câmeras durante as voltas do carro de segurança, que quando pulavam para o carro de Schumacher, mostravam a traseira do carro do líder, Ayrton Senna.

Na relargada, Galvão tinha a voz pesada, ainda.

Até escrever sobre esse momento é algo que me arrepia. Naquele ano eu tinha passado recentemente pela minha primeira experiência de perder alguém que admirava. Meu avô paterno, Joaquim, havia morrido fazia pouco tempo, em janeiro. Era recente na memória, que é viva até hoje, a cena de meu pai atendendo ao telefone em uma tarde de domingo. Aquele telefonema trazia a notícia da morte de meu avô.

Na relargada, Senna manteve-se à frente de Schumacher. Quando o brasileiro fez a tomada para a curva Tamburello, a TV exibia as imagens de dentro do carro do alemão. Naquela tomada, foi fácil identificar a linha reta que a Williams nº 2 tomou, fugindo da tangência da curva em direção ao muro.

"Senna bateu forte", disse um assustado Galvão Bueno.

De pé, no meio da sala, assistia àquela cena inacreditável. A Williams girava na pista, peças voavam. O carro parou e a cabeça de Senna pendeu para a direita. Eu fiquei em choque e senti um certo alívio quando Ayrton moveu-se levemente no cockpit.

Alívio que não se inflava. Não enxergava em Senna reações que estava acostumado a ver em outros acidentes. Ele não bateu no cinto, não sacou o volante, não pulou do carro. Ficou inerte, assim como Barrichello e Ratzenberger. Meu desespero com aquela situação era tão grande que fui parar no banheiro. O intestino desandou de tensão.

Ao voltar para a sala, os médicos atendiam a Senna sobre a brita da área de escape. Dava para ver o sangue tingindo as pedras, apesar das tentativas inócuas do helicóptero da geração de imagens de evitar captar cenas chocantes.

Alguns minutos depois, Senna foi colocado em um helicóptero, em uma maca.

As imagens acompanharam a aeronave até ela sumir no horizonte.

Passou-se algum tempo e a corrida foi reiniciada. De tempos em tempos, boletins com informações vagas me davam algum esperança de que Senna sobreviveria.

Fim de prova. No pódio Schumacher, Nicola Larini e Mika Häkkinen recebiam os troféus e comemoravam.

Aquela celebração dos vencedores acendeu em mim certa esperança. Pilotos não comemorariam se soubessem o estado de Senna no hospital.

Hoje, acho que eles realmente não sabiam.

Apesar do fim da transmissão, fiquei na sala. Nunca mais me esqueci do hospital Maggiore e da cidade de Bolonha, para onde Ayrton Senna foi levado depois do acidente.

Perto das 14h, Léo Batista apareceu na tela pequena da Toshiba de madeira e deu a notícia que eu não queria ouvir. Por telefone, Roberto Cabrini confirmava a informação de que meu herói tinha morrido.

Chorei.

O resto do dia foi uma merda.

Já à noite, quando o Fantástico terminou com as imagens da carreira de Ayrton com o tema da vitória de fundo, eu chorei mais uma vez.

Estava no sofá da sala, com minha mãe ao lado, que me fazia um carinho, tentava me acalmar. Mas sei lá, acho que naquela hora todos ali choravam.

O meu herói e o herói de um País todo tinha morrido.

Injusto demais. Fiquei sem chão, porque apesar de não entender muito de super-heróis, tinha certeza de que eles nunca morriam.

Ayrton Senna guiando pela McLaren. Foto: Getty Images
Este texto também é minha coluna da semana no Drive Brazil. Mas, como o dia de hoje é especial, publiquei ela hoje mesmo, aqui no Punta.

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Apurado instinto suicida

(Da sucursal em Brasília-DF) – Hoje fui testemunha de um acidente de trânsito.

Para quem conhece Taguatinga, a situação aconteceu logo depois da Boca da Mata, aquela via que liga Samambaia a Taguatinga Sul, na QSE 22.

O trânsito ali pela manhã é terrível. A via é muito estreita, o fluxo de carros é enorme e, para piorar, desde quando refizeram o asfalto da rua, em fevereiro, deixaram a pista sem nenhuma sinalização. O asfalto ficou até bom, mas sem sinalização o fluxo vira uma grande porcaria. 

Íamos minha mulher e eu no carro, acompanhando a procissão do engarrafamento. Quando cheguei a um cruzamento, deixei a passagem livre para permitir que os carros pudessem acessar a quadra e a pista principal.

Vindo da quadra, um motorista em uma Santana Quantum posicionou-se para entrar na pista em que estou, porém no sentido contrário.  Ele encontrou espaço no fluxo e acelerou, cruzando à minha frente.

Vou dar uma quebra aqui e tentar entender um ponto: amigos motociclistas, que bosta alguns colegas de vocês têm de achar que são imortais, infalíveis, ou que, sei lá por que diabos, têm prioridade sobre todos os outros veículos nas ruas?

A Quantum vinha de onde está o carro vermelho. Eu estava
onde está o carro preto. E no cruzamento, a moto bateu ao
tentar ultrapassar o engarrafamento.
Um motociclista, destes com este complexo de prioridade, resolveu que aquele seria o momento para cortar o trânsito parado sem precisar se importar com o resto do mundo, que, na cabeça dele, deveria parar para ele passar.

Obviamente o motoqueiro não deu uma maneirada ao passar pelo cruzamento. Eu, dentro do meu carro, com toda a segurança que um automóvel tem, penso mil vezes antes de tomar qualquer atitude. Confiro o retrovisor antes de frear, olho para os lados antes de cruzar faixas, entre outras ações que reduzem riscos de acidentes. Mas, o sujeito trepado em uma moto, que tem como parachoque a testa do piloto, não se preocupa com detalhes assim.

No Brasil se existem leis que funcionam são as da física. E ela foi cruel com o motoqueiro. Ao passar por mim, deu de testa com a Santana Quantum. O motoqueiro tentou frear, mas acabou batendo. Voou, bateu no parabrisas e rolou até o chão. 

Como a rua ali é muito estreita, o motoqueiro teve sorte de não ter sido atropelado por outros carros. Saiu pulando em um pé só e deitou-se na calçada. Acho que quebrou a perna e provavelmente machucou as costas, porque o vidro dianteiro da Quantum estava trincado.

Em um primeiro momento até comentei com minha mulher que achava que a culpa era do motorista do carro. Mas ela me alertou sobre o cenário e, realmente, ultrapassar ali era de uma falta de noção ímpar. 

Como não tinha muito o que fazer, dei uma primeira assistência e fui-me embora. No caminho, na EPTG, vim observando as motos dividindo espaço no corredor com os carros, ônibus, caminhões, todos em alta velocidade em um trânsito muito carregado.

E aí, veio a pergunta mais uma vez: que bosta esses caras têm na cabeça, meu Deus do céu? Será que não é óbvio que se algum daqueles motoristas cometer um erro, quem vai decolar da moto, esfolar-se no asfalto, ser atropelado, é o motociclista e não o motorista?

Entendo que muitos motoristas são irresponsáveis e que expõem motociclistas ao risco, mas não entra na minha cabeça a falta de extinto de autopreservação de quem pilota as motos. Não é melhor evitar o risco a morrer?

Motociclistas, a palavra é de vocês.

terça-feira, 29 de abril de 2014

Drive Brazil - Os rebocadores de aviões nos aeroportos

(Da sucursal em Brasília-DF) - Sempre que vou ao aeroporto, fico observando os carrinhos fazem o push-back dos aviões. Pequenos, os caminhõezinhos não refugam e empurram e puxam tudo o que avião que aparece pela frente.

O pessoal do Drive Brazil fez uma matéria muito bacana, mostrando um a um os carros de apoio que são fundamentais na logística do aeroporto internacional de Brasília.

A matéria completa você lê clicando aqui.

O rebocador TA-4206 T manobrando um Boeing 737-800, Foto: Gabriel Jabur/Drive Brazil

Senna, 20 anos sem o gênio (5)

(Da sucursal em Brasília-DF) - A imagem é emocionante.

De título Formula-Alone, a tela pintada pelo artista lituano Oleg Konin faz a mente ir longe.

E se Ayrton Senna tivesse se levantado do carro depois do acidente em Ímola...



Oleg vende impressões desta tela. Os interessados podem acessar este link aqui.

Senna, 20 anos sem o gênio (4)

(Da sucursal em Samambaia-DF) - Amanhã fazem 20 anos que Ayrton Senna morreu na bizarra, estranha, inexplicável etapa de San Marino da Formula 1 em 1994.

Encontrei no YouTube o vídeo da corrida completa. Para evitar as ferramentas que barram vídeos não oficiais da F1 no YouTube, o sujeito editou o vídeo com um efeito que atrapalha a visão, mas que não impede acompanhar a corrida.

A corrida que não deveria ter acontecido.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Campeonato de kart (1)

Theo de capacete e a câmera de enfeite:
a merdinha chinesa não conseguiu filmar no escuro
(Da sucursal em Brasília-DF) – Domingo foi dia de kart.

Antes de sair de casa, enquanto pendurava no capacete a câmera xingling que comprei, o Theo acabou vestindo o casco. 

Calma filho, tua hora tá quase chegando.

Uma vez por mês participo de um campeonato, a convite de um amigo que sabe que sou fissurado pela brincadeira e que já corria faz algum tempo com um grupo de kartistas.

A galera, aliás, toca muito bem. Conto ali uns 10, 12 caras que andam mais ou menos no mesmo ritmo e fazem cada minuto ao volante valer a pena.

As corridas acontecem no último domingo do mês, no Carrera, no Parque da Cidade. A última foi a terceira prova, a primeira com pista seca. Na primeira e na segunda etapas largamos com chuva, o que fez as corridas perigosas e imprevisíveis. 

Em fevereiro, na abertura da temporada, larguei no fim do grid e errei muito na corrida. Me precipitei e rodei algumas vezes, prejudicando demais o resultado. Acabei em 9º, na zona de pontuação mas frustado com os erros bobos.

Em março, na segunda corrida, fui para o kart com a cabeça mais tranquila. Procurei me concentrar mais e errar menos. O resultado foi bem melhor. Cheguei em 5º. Fiz uma corrida muito limpa e bacana, com um pega de cinco, seis voltas com o Renato Assis, se não me engano.

No domingo a coisa prometia. Mais consciente e com pista seca, coloquei em mente que faria uma corrida sem erros imbecis.

O grid de largada no nosso campeonato é feito com a inversão da ordem de classificação no campeonato. Assim, larguei em 11º, bem no meio da turma, pelo lado de dentro do traçado.

Quem conhece o Carrera sabe que a pista é estreita. A primeira curva é um grampo, que complica qualquer tentativa de superá-la sem tocar em algum outro carro. Minha estratégia era tentar ganhar o 10º lugar me mantendo por dentro na curva um e, na sequência, me posicionar por fora na curva dois para ganhar algumas posições na tomada da curva três.

Mas, meu planejamento foi para o espaço quando a luz verde acendeu.

Os pilotos que estavam em 9º e 10º largaram mal. Acabei me metendo na brecha que eles deixaram e quando vi, estava por fora na curva um. Totalmente o oposto do que havia planejado.

Aproveitei e abri bastante a curva, para evitar toques. Consegui tracionar bem para e entrei forte na curva três, já brigando pelo quinto e sexto lugar. Fato é que, para minha surpresa, eu já era quarto colocado na reta oposta.

Vim brigando por posições e cruzei a reta no encalço do terceiro colocado. Estávamos os quatro em um ritmo muito forte.

Na terceira volta fiz mágica. Superei o segundo e o terceiro colocados e cheguei a assumir a ponta por alguns momentos, mas o Felipe se posicionou melhor por dentro na chicane que dá acesso a reta dos boxes e voltou ao primeiro lugar.

Aí, na quarta volta, cometi o erro que matou minha corrida. Entrei fechado demais na curva um. O kart acertou um buraco, eu perdi o controle e fui parar nos pneus do outro lado da pista. Preso na barreira de proteção, vi todos os carros passarem por mim, sem pena. 

Para piorar, um dos pilotos não conseguiu parar a tempo e bateu com muita força na minha lateral direita. Sim, está doendo até agora.

Voltei em 15º, a última posição, e comecei a remar. 

Me concentrei, não cometi erros, e fui me recuperando. Nas últimas cinco voltas, em 7º (eu acho) alcancei um pelotão de quatro carros e me posicionei para tentar ultrapassá-los.

Aí uma confusão dos fiscais de pista matou meu fim de prova.

Quando um fiscal agita a bandeira azul, ele quer te dizer que você é um retardatário e que é para você dar passagem ao carro que vem atrás.

O problema é que na minha frente eu enxerguei retardatários que eu tinha direito de ultrapassar. Mas a falta de objetividade dos fiscais não deixou ao piloto à minha frente que ele percebesse que precisava abrir.

E não me fez perceber que atrás de mim estava o líder.

Como eu não sabia que o primeiro colocado era quem estava em meu encalço, fui ultrapassando os que conseguia e me defendendo da ultrapassagem dele.

Puto, o líder me deu um totó. Mais uma vez, meu kart na contramão.

Desta vez, consegui voltar mais rapidamente e me posicionei bem, logo atrás do Carlos Togo, líder do campeonato.

No fim das contas, terminei em 7º.

Depois da prova, devido ao grande número de cacetadas, totós e ultrapassagens utilizando o kart adversário como apoio, teve reunião para um paga geral.

Vamos ver no mês que vem se a conversa surtiu efeito.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Bons velhos tempos que não vivi

(Da sucursal em Brasília-DF) - Nos meus arquivos, uma linda foto que encontrei no acervo do Arquivo Público do Distrito Federal.

O local é entre o Conic e o Setor Comercial Sul, em frente ao Hotel Nacional. 

Os carros, um Gordini, seguido de um Belcar e um Fusca.

O evento? Acho que uma prova de 1000 milhas de Brasilia.

Alguém tem mais informações por aí?

Um Belcar em Samambaia

Esse eu vi ontem pela manhã, perto de casa, em Samambaia. O lindo DKW-Vemag Belcar estava estacionado na porta de um comércio, com a escr...