No quesito piloto gata, a Lud põe a Danica Patrick no chinelo. |
E, quando o celular dela tocou no sábado, o Dani
não queria falar com ela, mas comigo.
“Nilsão, meu pai e eu vamos dar umas voltas nos 400 amanhã
lá no Ferrari, quer ir também?”
Claro que sim, foi minha resposta. Não perderia uma oportunidade
dessas por nada!
O Dani já tinha prometido me chamar para dar umas
voltas nos karts do pai dele, mas nunca tinha rolado a oportunidade.
Mas ontem foi o dia.
Estou acostumado a correr de kart indoor. Participo de um
campeonato e temos corrida uma vez por mês. O indoor é aquele que tem para-choques
por todos os lados, com as rodinhas protegidas para evitar acidentes em toques
laterais. O motor dos indoor têm, normalmente, uns 7 HP e empurram os carrinhos
a uns 65 km/h.
São legais para brincar, mas não te deixam com o coração
acelerado nem passam a sensação de velocidade de um kart maior.
E ontem foi minha estreia nesse mundo dos karts de gente
grande.
O clima do lugar já é totalmente diferente do das
corridinhas nos indoor. Para começar, não tem essa do kart estar prontinho para
você assentar-se e sair correndo. Tem de descer o kart da caçamba da camionete, abrir boxes, abastecer, dar uma olhada
geral no equipamento, ver pressão dos pneus e conferir mais um monte de detalhes
essenciais antes de colocar o kart na pista.
Outro ponto que pega quando o motor do kart cresce é a
preocupação com a segurança. Nada de pilotar de calças jeans ou sem luvas, como
acontece em muitos indoor por aí. Só dá para levar um 400 para a pista vestido
de macacão, balaclava, luvas e um capacete decente.
Na pista o comportamento também deve ser diferente. Antes de
assentar-me no carro, Evilásio, pai do Daniel, me passou as dicas de segurança
e as normas de conduta a serem seguidas no traçado do kartódromo Waltinho
Ferrari, que fica no complexo do Autódromo Internacional Nelson Piquet, aqui em
Brasília.
O traçado da pista é o circuito completo do kartódromo, com mais ou menos 1 km de pista. Quando é usado pelo pessoal do indoor, reduzem o traçado pela metade. Os 400 precisam de mais espaço e de mais retas para serem aproveitados melhor.
Já no posto do piloto, aguardei a partida, esperei o ok do
Evilásio. De boxes livres, acelerei para a pista.
Sensação deliciosa que passa a força daquele carrinho. Aproveitei as
primeiras voltas para sentir o kart, entender a dinâmica daquele brinquedinho
com mais de 18 cavalos de potência empurrando menos de 200 quilos de peso.
É uma relação peso/potência que beira os 10 quilos por
cavalo. Para efeitos de comparação, um Ford Fusion 2.5 ou um Hyundai i30 têm
relações peso/potência muito próximas de 10kg/cv.
As primeiras diferença sensíveis dos kart 400 para os indoor são a estabilidade e o torque. O peso extra do 400 deixa o carro mais no chão e a potência maior, somada a uma embreagem mais eficiente e aos pneus de melhor qualidade fazem a resposta do motor ser sentida com mais eficiência nas rodas, especialmente nas retomadas de curva.
Eu, no kart preto, e a Lud logo atrás, no 64. |
Sempre que parava nos boxes, Evilásio me dava umas dicas e
me dizia onde eu poderia melhorar. E eu levava as dicas para o volante e
tentava arredondar a tocada.
Perdi o controle e rodei apenas duas vezes, em momentos em que levei o kart além
do limite (do equipamento e meu). Em uma das rodadas, dei um belo susto no
Daniel, que vinha colado na minha traseira e foi obrigado a rodar também para
não me atropelar.
O dia já estava bacana demais, mas ainda tinha mais um momento para eu curtir. Lud e Theo deram
um pulinho lá pelos boxes também e, empurrada por um coro empolgado, a Lud
topou dar umas voltinhas comigo. Vestiu um macacão, minha balaclava e o capacete do Dani e tomou assento no kart 64.
Sem prática com o bólido, ela deixou o bichinho apagar algumas
vezes. Porém, mais rápido do que eu imaginei, ela pegou o jeito da coisa e depois de alguns metros já estava acelerando sem medo.
Na próxima vez que ela entrar em um 400, tenho certeza que ela vai colocar 100 km/h na
reta.
Tirar esse carinha do volante foi momento seguido de um belo choro. (Estou falando do Theo.) |
Enquanto Lud e eu dávamos nossas voltas, ele ficou dos boxes assistindo, no colo da tia Carol, empolgado com a brincadeira.
Achou o máximo quando coloquei-o no meu colo no kart (desligado,
é claro), e deixei que ele dirigisse até a o fim dos boxes, movido a empurrões
do tio Dani.
No fim das contas, foi uma delícia de domingo. O Daniel acha que dei mais de 30 voltas entre minhas idas e vindas dos boxes, quantidade de giros que justificam as dores nas batatas das pernas e nas costas.
Valeu Evilásio, valeu Dani. Como me disse a Lud ontem, vocês
me fizeram mais feliz do que pinto no lixo.