Pular para o conteúdo principal

Os absurdos de uma guerra

(Da sucursal em Brasília-DF) - No Leste Europeu, no Oriente Médio, nestas regiões do globo nunca conseguiu-se paz por muito tempo. Genocídios, ditadores sanguinários, intervenções estabanadas das potências mundiais, especialmente dos Estados Unidos, da União Soviética/Rússia, resultando em milhões de civis mortos e na perpetuação dos conflitos que parecem ser infinitos.

Ontem, mais um capítulo de toda essa desgraça aconteceu. Um avião civil foi abatido por um míssil e, até agora, a troca de acusações ruma para rebeldes ucranianos pró-Rússia como responsáveis.

Um líder do movimento separatista pró-Rússia postou em uma rede social que teriam abatido um Antonov AN-26 e que "estavam todos avisados que não deveriam voar no nosso espaço". A mensagem foi apagada assim que confirmou-se que o avião derrubado era civil, mas pode ser acessada aqui, em russo.

Segundo a agência russa de notícias Interfax, existe a hipótese do alvo ter sido, na verdade, o avião presidencial russo, que levava o presidente Vladimir Putin para casa depois do encontro dos BRICS, no Brasil.

Este vídeo, legendando em inglês, mostra o diálogo dos prováveis responsáveis pelo disparo do míssil. Os interlocutores transmitem a sensação de que o ocorrido ontem foi um erro de alvo, mostrando até certo desespero com a constatação de que o avião derrubado era civil.

Lá no final do post está a tradução da conversa para o português.




Antonov AN-26.
Foto: Military Today
Mas dá para errar?

Confundir um AN-26 com um 777 ou um 96-300 é praticamente impossível. Este Antonov é um turboélice militar e muito menor que os outros dois aviões.

Já entre os outros dois, a confusão é até possível. A Malaysia Airlines ostenta uma pintura muito parecida a do avião presidencial russo. O porte do Boeing 777 abatido também é o mesmo do Ilyushin Il-96-300 russo. A grande diferença entre os aviões são as quatro turbinas do Ilyushin, duas a mais que as do 777.

Em altitude de cruzeiro é difícil diferenciar as aeronaves a olho nu.

O Boeing 777 abatido ontem, na foto de Mir ZafriZ e o Ilyushin Il-96-300 fotografado por Dmitriy Pichugin

Mas, pensando com um pouco de razão, não consigo imaginar alguém atirando em um avião sem o apoio de algum equipamento ótico, como um binóculo, por exemplo, para garantir no que se está mirando.

Para exemplificar, observem esta foto abaixo, que fiz em 2010. É um Boeing 747, da Japan Airlines. Fiz a fotografia aqui em Brasília, com uma lente 200 milímetros, com a intenção de captar também a lua. Caso quisesse, teria utilizado ainda mais zoom e ido aos 300 mm, trazendo ainda mais detalhes do avião.

Foto que fiz em 2010, de um 747 da Japan Airlines sobre Brasília.

Com lentes assim, mesmo com aeronaves em cruzeiro, é possível identificar até o prefixo do avião, dependendo do ângulo da foto.

No caso de ontem, pode ser que o céu estivesse encoberto, atrapalhando a confirmação visual.

Toda essa história é estranha demais e vai tomando rumos tão obscuros quanto os do desaparecimento do outro avião da Malaysia, em março.

De toda a forma, por maior que seja o ódio por Putin, pela Rússia, pelo planeta, matar por qualquer causa é estúpido, nojento, repugnante, não importando se erraram o alvo.

Se tudo isso confirmar-se, assinaram 298 por engano na tentativa de matar outros tantos.



Transcrição do diálogo, em português:

Igor Bezler: Acabamos de abater um avião. Grupo Minera. Ele caiu depois de Yenakievo.

Vasili Geranin: Pilotos. Onde estão os pilotos?

IB: Saíram para procurar e fotografar o avião. Há fumaça.

VG: Quantos minutos atrás?

IB: Cerca de 30 minutos atrás.

A outra parte da conversa ocorreu aproximadamente 40 minutos mais tarde.

Major: Foram pessoas de Chernukhin que derrubaram o avião. Do posto de verificação de Chernukhin. Os cossacos que se baseiam em Chernukhino.

Grego: Sim, Major.

Major: O avião se desintegrou no ar. Na área de Petropavlovskaya. O primeiro “200″ (código para pessoa morta). Nós encontramos o primeiro “200″. Um civil.

Grego: Bem, o que você tem aí?

Major: Em suma, era 100 por cento um avião de passageiros (civil).

Grego: Muitas pessoas lá?

Major: Os escombros caíram direto sobre os quintais das casas.

Grego: Que tipo de aeronave?

Major: Eu não verifiquei isso. Eu não fui ao local principal. Estou examinando apenas o local onde os primeiros corpos caíram. Há restos de equipamentos, bancos e corpos.

Grego: Sobrou algo da arma?

Major: Absolutamente nada. Itens civis, material medicinal, toalhas, papel higiênico.

Grego: Existem documentos?

Major: Sim, de um estudante indonésio. De uma universidade em Thompson.

Em uma ligação final, incluída mais tarde na gravação, um rebelde fala com um comandante cossaco.

Rebelde: Em relação a este avião que foi derrubado na área de Snizhne-Torez. Ele era um avião de passageiros. Caiu perto de Grabovo. Um monte de corpos de mulheres e crianças. Agora os cossacos estão olhando tudo isso.

Rebelde: A TV disse que era um AN-26. Um avião de carga ucraniano. Mas está escrito Malaysia Airlines nele. O que estava fazendo em território da Ucrânia?

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

De volta à Europa

(Da sucursal em Brasília-DF) – No domingo começa a temporada europeia da Formula 1, depois de uma sessão de quatro provas no oriente. A volta das corridas ao continente europeu trará duas grandes mudanças, com efeito já no GP da Espanha de domingo: -  melhoria da minha qualidade de vida. As largadas voltam a ser às 9h da manhã e eu deixo de ser obrigado a acordar no meio da madrugada de domingo para não ter de ver a corrida no compacto do Esporte Espetacular; - a logística da F1 se acerta. Como as equipes não precisam mais se deslocar para o outro lado do planeta, engenheiros e designers passam a ter mais tempo para desenvolver os carros. É no começo das provas na Europa que o campeonato acirra a disputa, com equipes aperfeiçoando os carros com mais eficiência e em menos tempo. Especula-se, por exemplo, que o novo chassi que a Red Bull usará na Espanha é fantástico, sensacional e fodástico. Porém, de tudo o que pode mudar a partir de domingo,

Um Belcar em Samambaia

Esse eu vi ontem pela manhã, perto de casa, em Samambaia. O lindo DKW-Vemag Belcar estava estacionado na porta de um comércio, com a escrita "vendo" chamando atenção no vidro. Não tive dúvidas: peguei o primeiro retorno e fui ver de perto um dos carros mais bonitos já fabricados no Brasil. Ele estava estacionado de costas para a rua, então só quando desci do carro pude ver que tratava-se de um modelo 1967, o único a trazer quatro faróis, diferente dos anteriores que tinham dois faróis. O 1967 além do design diferente dos anteriores, é especial por ser do último ano de produção do Belcar no Brasil. Perguntei para as pessoas por ali pelo dono do carro que me indicaram ser o proprietário da lanchonete quase em frente à vaga onde estava parado o Belcar. Lá não encontrei o dono do carro, mas o irmão dele, o Márcio. Segundo ele, o carro está com o motor original, funcionando bem, e com documentos em ordem. O Márcio ainda me disse que querem R$ 16 mil por ele.

Bela Williams

Como a negociação das cotas dos maiores patrocínios na Williams foram fechadas definitivamente no final de fevereiro, só agora a equipe inglesa apresentou as cores do FW36, que será pilotado por Valtteri Bottas e pelo brasileiro Felipe Massa. A Williams FW36, pilotada por Felipe Massa A grande novidade na pintura é a Martini, fabricante de bebidas. Como principal patrocinadora do time, ela dita as cores do carro que é predominantemente branco, com grafismos em azul e vermelho. O nome da equipe também mudou. Agora os ingleses assinam Williams Martini Racing.   E o carro ficou especialmente bonito. A cor branca conseguiu aliviar o desenho esquisito do bico e os traços em cor deixaram o conjunto muito elegante. É o mais belo do grid. Seguindo o layout do bólido, os macacões dos pilotos também são muito bacanas e relembram velhos tempos de um automobilismo romântico, dos anos 1970, 1980, quando a Martini estampava carros e vestimentas em diversas categorias mundo afora