Ontem, mais um capítulo de toda essa desgraça aconteceu. Um avião civil foi abatido por um míssil e, até agora, a troca de acusações ruma para rebeldes ucranianos pró-Rússia como responsáveis.
Um líder do movimento separatista pró-Rússia postou em uma rede social que teriam abatido um Antonov AN-26 e que "estavam todos avisados que não deveriam voar no nosso espaço". A mensagem foi apagada assim que confirmou-se que o avião derrubado era civil, mas pode ser acessada aqui, em russo.
Segundo a agência russa de notícias Interfax, existe a hipótese do alvo ter sido, na verdade, o avião presidencial russo, que levava o presidente Vladimir Putin para casa depois do encontro dos BRICS, no Brasil.
Este vídeo, legendando em inglês, mostra o diálogo dos prováveis responsáveis pelo disparo do míssil. Os interlocutores transmitem a sensação de que o ocorrido ontem foi um erro de alvo, mostrando até certo desespero com a constatação de que o avião derrubado era civil.
Lá no final do post está a tradução da conversa para o português.
Antonov AN-26. Foto: Military Today |
Confundir um AN-26 com um 777 ou um 96-300 é praticamente impossível. Este Antonov é um turboélice militar e muito menor que os outros dois aviões.
Já entre os outros dois, a confusão é até possível. A Malaysia Airlines ostenta uma pintura muito parecida a do avião presidencial russo. O porte do Boeing 777 abatido também é o mesmo do Ilyushin Il-96-300 russo. A grande diferença entre os aviões são as quatro turbinas do Ilyushin, duas a mais que as do 777.
Em altitude de cruzeiro é difícil diferenciar as aeronaves a olho nu.
O Boeing 777 abatido ontem, na foto de Mir ZafriZ e o Ilyushin Il-96-300 fotografado por Dmitriy Pichugin. |
Mas, pensando com um pouco de razão, não consigo imaginar alguém atirando em um avião sem o apoio de algum equipamento ótico, como um binóculo, por exemplo, para garantir no que se está mirando.
Para exemplificar, observem esta foto abaixo, que fiz em 2010. É um Boeing 747, da Japan Airlines. Fiz a fotografia aqui em Brasília, com uma lente 200 milímetros, com a intenção de captar também a lua. Caso quisesse, teria utilizado ainda mais zoom e ido aos 300 mm, trazendo ainda mais detalhes do avião.
Foto que fiz em 2010, de um 747 da Japan Airlines sobre Brasília. |
Com lentes assim, mesmo com aeronaves em cruzeiro, é possível identificar até o prefixo do avião, dependendo do ângulo da foto.
No caso de ontem, pode ser que o céu estivesse encoberto, atrapalhando a confirmação visual.
Toda essa história é estranha demais e vai tomando rumos tão obscuros quanto os do desaparecimento do outro avião da Malaysia, em março.
De toda a forma, por maior que seja o ódio por Putin, pela Rússia, pelo planeta, matar por qualquer causa é estúpido, nojento, repugnante, não importando se erraram o alvo.
Se tudo isso confirmar-se, assinaram 298 por engano na tentativa de matar outros tantos.
Transcrição do diálogo, em português:
Igor Bezler: Acabamos de abater um avião. Grupo Minera. Ele caiu depois de Yenakievo.
Vasili Geranin: Pilotos. Onde estão os pilotos?
IB: Saíram para procurar e fotografar o avião. Há fumaça.
VG: Quantos minutos atrás?
IB: Cerca de 30 minutos atrás.
A outra parte da conversa ocorreu aproximadamente 40 minutos mais tarde.
Major: Foram pessoas de Chernukhin que derrubaram o avião. Do posto de verificação de Chernukhin. Os cossacos que se baseiam em Chernukhino.
Grego: Sim, Major.
Major: O avião se desintegrou no ar. Na área de Petropavlovskaya. O primeiro “200″ (código para pessoa morta). Nós encontramos o primeiro “200″. Um civil.
Grego: Bem, o que você tem aí?
Major: Em suma, era 100 por cento um avião de passageiros (civil).
Grego: Muitas pessoas lá?
Major: Os escombros caíram direto sobre os quintais das casas.
Grego: Que tipo de aeronave?
Major: Eu não verifiquei isso. Eu não fui ao local principal. Estou examinando apenas o local onde os primeiros corpos caíram. Há restos de equipamentos, bancos e corpos.
Grego: Sobrou algo da arma?
Major: Absolutamente nada. Itens civis, material medicinal, toalhas, papel higiênico.
Grego: Existem documentos?
Major: Sim, de um estudante indonésio. De uma universidade em Thompson.
Em uma ligação final, incluída mais tarde na gravação, um rebelde fala com um comandante cossaco.
Rebelde: Em relação a este avião que foi derrubado na área de Snizhne-Torez. Ele era um avião de passageiros. Caiu perto de Grabovo. Um monte de corpos de mulheres e crianças. Agora os cossacos estão olhando tudo isso.
Rebelde: A TV disse que era um AN-26. Um avião de carga ucraniano. Mas está escrito Malaysia Airlines nele. O que estava fazendo em território da Ucrânia?
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