segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Domingo feliz

No quesito piloto gata,
a Lud põe a Danica Patrick no chinelo.
Meu telefone estava desligado no sábado à noite. Por sorte, o hoje meu amigo Daniel é parceiro de velha data da Lud, minha mulher.

E, quando o celular dela tocou no sábado, o Dani não queria falar com ela, mas comigo.

“Nilsão, meu pai e eu vamos dar umas voltas nos 400 amanhã lá no Ferrari, quer ir também?”

Claro que sim, foi minha resposta. Não perderia uma oportunidade dessas por nada!

O Dani já tinha prometido me chamar para dar umas voltas nos karts do pai dele, mas nunca tinha rolado a oportunidade.

Mas ontem foi o dia.

Estou acostumado a correr de kart indoor. Participo de um campeonato e temos corrida uma vez por mês. O indoor é aquele que tem para-choques por todos os lados, com as rodinhas protegidas para evitar acidentes em toques laterais. O motor dos indoor têm, normalmente, uns 7 HP e empurram os carrinhos a uns 65 km/h.

São legais para brincar, mas não te deixam com o coração acelerado nem passam a sensação de velocidade de um kart maior.

E ontem foi minha estreia nesse mundo dos karts de gente grande.

O clima do lugar já é totalmente diferente do das corridinhas nos indoor. Para começar, não tem essa do kart estar prontinho para você assentar-se e sair correndo. Tem de descer o kart da caçamba da camionete, abrir boxes, abastecer, dar uma olhada geral no equipamento, ver pressão dos pneus e conferir mais um monte de detalhes essenciais antes de colocar o kart na pista.

Outro ponto que pega quando o motor do kart cresce é a preocupação com a segurança. Nada de pilotar de calças jeans ou sem luvas, como acontece em muitos indoor por aí. Só dá para levar um 400 para a pista vestido de macacão, balaclava, luvas e um capacete decente.

Na pista o comportamento também deve ser diferente. Antes de assentar-me no carro, Evilásio, pai do Daniel, me passou as dicas de segurança e as normas de conduta a serem seguidas no traçado do kartódromo Waltinho Ferrari, que fica no complexo do Autódromo Internacional Nelson Piquet, aqui em Brasília.

O traçado da pista é o circuito completo do kartódromo, com mais ou menos 1 km de pista. Quando é usado pelo pessoal do indoor, reduzem o traçado pela metade. Os 400 precisam de mais espaço e de mais retas para serem aproveitados melhor.

Já no posto do piloto, aguardei a partida, esperei o ok do Evilásio. De boxes livres, acelerei para a pista.

Sensação deliciosa que passa a força daquele carrinho. Aproveitei as primeiras voltas para sentir o kart, entender a dinâmica daquele brinquedinho com mais de 18 cavalos de potência empurrando menos de 200 quilos de peso.

É uma relação peso/potência que beira os 10 quilos por cavalo. Para efeitos de comparação, um Ford Fusion 2.5 ou um Hyundai i30 têm relações peso/potência muito próximas de 10kg/cv.

As primeiras diferença sensíveis dos kart 400 para os indoor são a estabilidade e o torque. O peso extra do 400 deixa o carro mais no chão e a potência maior, somada a uma embreagem mais eficiente e aos pneus de melhor qualidade fazem a resposta do motor ser sentida com mais eficiência nas rodas, especialmente nas retomadas de curva.

Eu, no kart preto, e a Lud logo atrás, no 64.
Dei várias voltas, tentei concentrar-me ao máximo e consegui fazer alguns giros rápidos. Como o kart é bem mais forte o cansaço bate em pouco tempo e a força para contornar as curvas com o pé afundado no acelerador vai esvaindo-se a cada volta, especialmente em uma manhã quente como foi a de ontem.

Sempre que parava nos boxes, Evilásio me dava umas dicas e me dizia onde eu poderia melhorar. E eu levava as dicas para o volante e tentava arredondar a tocada.

Perdi o controle e rodei apenas duas vezes, em momentos em que levei o kart além do limite (do equipamento e meu). Em uma das rodadas, dei um belo susto no Daniel, que vinha colado na minha traseira e foi obrigado a rodar também para não me atropelar.

O dia já estava bacana demais, mas ainda tinha mais um momento para eu curtir.  Lud e Theo deram um pulinho lá pelos boxes também e, empurrada por um coro empolgado, a Lud topou dar umas voltinhas comigo. Vestiu um macacão, minha balaclava e o capacete do Dani e tomou assento no kart 64.

Sem prática com o bólido, ela deixou o bichinho apagar algumas vezes. Porém, mais rápido do que eu imaginei, ela pegou o jeito da coisa e depois de alguns metros já estava acelerando sem medo.

Na próxima vez que ela entrar em um 400, tenho certeza que ela vai colocar 100 km/h na reta.

Tirar esse carinha do volante
foi momento seguido de um
belo choro.
(Estou falando do Theo.)
Já o Theo, que gosta muito de tudo o que tem motor e que faz barulho, assustou-se um pouco no começo com o berro dos 400 rasgando a reta, mas rapidinho acostumou-se. Quando fui ver, já estava andando para tudo que é lado nos boxes com duas chaves de boca nas mãos.

Enquanto Lud e eu dávamos nossas voltas, ele ficou dos boxes assistindo, no colo da tia Carol, empolgado com a brincadeira.

Achou o máximo quando coloquei-o no meu colo no kart (desligado, é claro), e deixei que ele dirigisse até a o fim dos boxes, movido a empurrões do tio Dani.

No fim das contas, foi uma delícia de domingo. O Daniel acha que dei mais de 30 voltas entre minhas idas e vindas dos boxes, quantidade de giros que justificam as dores nas batatas das pernas e nas costas.

Valeu Evilásio, valeu Dani. Como me disse a Lud ontem, vocês me fizeram mais feliz do que pinto no lixo.

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